Artigo de Opinião

Publicado no Suplemento de Seguros, do Jornal VidaEconómica, a 13 de Setembro de 2024.

Diretor Geral da DefendeRisk Consultoria, Engenheiro Lúcio Pereira da Silva

 

Seguros Climáticos e Ambientais, qual o futuro?

 

Portugal, localizado na extremidade ocidental da Europa, é um país caracterizado por uma diversidade geográfica e climática notável.
Esta diversidade, no entanto, torna o território português exposto a uma diversidade de riscos naturais, como incêndios florestais, inundações, secas e tempestades. Com o impacto das mudanças climáticas cada vez mais evidente, a frequência e a intensidade desses eventos extremos têm aumentado, produzindo consequências devastadoras para a economia, para o ambiente e para a sociedade. Neste contexto, os seguros climáticos e ambientais aparecem como instrumentos cruciais para a mitigação dos riscos associados a catástrofes naturais.
Nos últimos anos, Portugal tem sido palco de eventos climáticos extremos que causaram destruição em larga escala. Incêndios florestais como os de 2017,
que devastaram vastas áreas do território e resultaram na perda de muitas dezenas de vidas humanas, são exemplos trágicos das vulnerabilidades do país. Além
disso, inundações e tempestades têm causado estragos significativos em áreas urbanas e rurais, levando à destruição de infraestruturas, habitações e terras agrícolas. Essas catástrofes não só causam danos materiais e perda de vidas, mas também têm um impacto económico profundo, interrompendo a atividade económica, destruindo meios de subsistência e impondo uma enorme carga financeira ao governo e às comunidades afetadas.
Os seguros climáticos e ambientais são instrumentos financeiros que permitem a transferência dos riscos associados a eventos naturais extremos para as seguradoras. Estes seguros oferecem uma proteção financeira vital contra os impactos económicos adversos resultantes de catástrofes, permitindo que os indivíduos e as empresas mitiguem as perdas e aceleram a recuperação após um desastre.
Além de fornecer proteção financeira, os seguros climáticos e ambientais incentivam práticas de prevenção e resiliência. Por exemplo as seguradoras, ao avaliarem os riscos para definirem as apólices, muitas vezes exigem que os segurados implementem medidas de mitigação de risco, como a construção de infraestruturas mais resistentes, a implementação de sistemas de alerta ou a adoção de práticas
agrícolas sustentáveis. Isso não só reduz o risco de perda, mas também promove uma cultura de resiliência e preparação, essencial para enfrentar os desafios das mudanças climáticas.
Uma das principais vantagens dos seguros climáticos e ambientais é a mitigação do risco financeiro. Quando uma catástrofe ocorre, os danos materiais e as perdas económicas podem ser astronómicas. Sem
seguros adequados, esses custos recaem inteiramente sobre as vítimas e, muitas vezes, sobre o Estado. Os seguros permitem também uma compensação rápida e específica para as perdas cobertas, desde que as garantias e capitais estejam corretamente identificados.
Apesar dos benefícios evidentes, a implementação eficaz de seguros climáticos e ambientais em Portugal enfrenta desafios significativos. Um dos principais desafios é a sensibilização e a aceitação por parte do público e das empresas. Muitos ainda consideram os seguros como um custo adicional para a sua ‘carteira’, em vez de uma ferramenta essencial de gestão de risco. É muito importante promover uma maior educação e consciencialização sobre a importância destes seguros.
A inovação no setor de seguros, como o desenvolvimento de seguros paramétricos, que pagam automaticamente com base em parâmetros predefinidos (por exemplo, quantidade de chuva ou intensidade de um terremoto), pode ser uma solução para tornar os seguros mais acessíveis e eficazes.
Os seguros climáticos desempenham um papel crucial no fortalecimento da resiliência de Portugal frente às catástrofes naturais. Ao mitigar os riscos financeiros, incentivar a prevenção e resiliência, estes
seguros são uma peça fundamental na estratégia nacional de gestão de riscos. No entanto, para que sejam plenamente eficazes, é necessário enfrentar os desafios de sensibilização, acessibilidade e inovação. Por exemplo, Portugal enfrentou nos últimos 17 anos um total de 20 ‘eventos extremos’, na classificação usada pelas companhias de seguros. Só entre 2006 e 2023, foram raros os anos em que não houve um ou mais acidentes naturais relevantes, em danos e custos para o setor, na ordem de centenas de milhões de euros, de acordo com dados da Associação Portuguesa de Seguradoras (APS).
Com uma abordagem integrada e colaborativa, Portugal pode melhorar a sua capacidade de resposta às catástrofes naturais e assegurar um futuro mais seguro e sustentável para todos, nomeadamente o
Fundo de Gestão de Catástrofes.