Artigo de Opinião

Publicado no Suplemento de Seguros, do Jornal VidaEconómica, a 14 de Março de 2025.

Diretor Geral da DefendeRisk Consultoria, Engenheiro Lúcio Pereira da Silva

 

O futuro dos seguros automóveis quando a condução for sem condutores

 

Atualmente, os seguros automóveis baseiam-se em fatores como a experiência do condutor, histórico de acidentes, idade e localização geográfica para o cálculo dos prémios. Contudo, num cenário onde o “condutor” é um sistema de inteligência artificial a operar de forma autónoma, estas variáveis tornam-se obsoletas. Com os veículos autónomos, os acidentes causados por falha humana, que representam a maioria dos acidentes, seriam drasticamente reduzidos.
Consequentemente, as apólices individuais de seguro, atuais tornar-se-ão desnecessárias e desadequadas.
O foco deslocar-se-á para os fabricantes de veículos e detentores de software de condução autónoma. As seguradoras, passarão a oferecer apólices que cubram falhas tecnológicas, ataques cibernéticos e defeitos de conceção.
Surge, assim, uma questão central, quem será responsabilizado em caso de acidente?
O proprietário do veículo, o detentor do software ou o fabricante do automóvel?
À medida que os veículos alcançam a automação total, o impacto desta revolução tecnológica ultrapassa os limites das estradas. O setor de seguros
automóveis, tradicionalmente centrado nos riscos associados à falha humana, enfrentará, inevitavelmente, uma transformação signifi cativa.
Com a conectividade total dos veículos autónomos, as seguradoras terão acesso a dados em tempo real sobre o desempenho dos carros e suas interações com o ambiente. Sensores, câmaras e sistemas de georreferenciação poderão identificar riscos ou incidentes de imediato. Este avanço permitirá a criação de modelos de seguro dinâmico, onde os prémios serão ajustados com base no uso e no comportamento do veículo em tempo real.
Além disso, os dados gerados por veículos autónomos simplificarão os processos de atribuição de responsabilidade em acidentes, fornecendo informações detalhadas e imparciais. Porém, os veículos autónomos trazem consigo novos riscos.
Ataques cibernéticos, por exemplo, tornam-se uma preocupação crítica. Imagine um cenário onde hackers controlam um veículo ou manipulam
sistemas de tráfego, causando o caos.

O seguro cibernético será, portanto, um componente essencial do futuro da mobilidade.
Outro ponto a considerar é a responsabilidade por atualizações de software. Tal como acontece com smartphones, os veículos autónomos exigirão atualizações constantes. Se uma atualização mal projetada causar falhas no sistema, quem será responsabilizado?
Esse tipo de risco cria a necessidade de seguros altamente especializados para detentores de software e fabricantes.Por outro lado, a automação oferece oportunidades. A redução de sinistros pode levar a prémios mais baixos. Além disso, a gestão ética e legal de dados em larga escala permitirá às seguradoras personalizar ainda mais os seus produtos.
O desaparecimento da figura do ‘condutor’ terá implicações económicas e sociais profundas. Empresas tradicionais de seguros precisarão de se reinventar para evitar a obsolescência, enfrentando a entrada de novos players, como fabricantes de veículos e empresas de tecnologia, no mercado de seguros.
Socialmente, a universalização do acesso a veículos autónomos poderá transformar a perceção sobre a posse de automóveis. Modelos de subscrição,
onde o veículo é utilizado conforme a necessidade, poderão tornar-se padrão, reduzindo ainda mais a necessidade de seguros individuais.
O futuro dos seguros automóveis será inevitavelmente adaptado pela evolução dos veículos autónomos. A ausência de condutores humanos elimina muitos dos riscos tradicionais, mas também introduz desafios inéditos e desconhecidos que exigem uma reestruturação profunda do setor. Desde o desenvolvimento de seguros cibernéticos e a cobertura para falhas tecnológicas, até à utilização de dados em tempo real, o setor deverá ser tão inovador quanto os próprios veículos.
Enquanto a tecnologia guia a sociedade rumo a um mundo sem volantes, o seguro automóvel do futuro assumirá um papel mais abrangente.
Será um parceiro tecnológico num ecossistema de mobilidade segura e eficiente.
Este futuro, embora desafiante, promete ser igualmente cativante para todas as partes envolvidas.